Cobaia de rede social

Com frequência me sinto sendo testada. Será que ela vai engajar nessa trend? Será que ela vai morder a isca e se posicionar contra aquele textão de escritor falando bobagem? Será que ela vai dar combustível para aquela polêmica que tá fazendo um livro bater recorde de vendas, que está fazendo aquela música ganhar mais plays, que tá fazendo todo mundo falar do mesmo assunto por dias? Já sei, vamos mudar aquele botão de lugar. Vamos ver como ela reage. Vamos diminuir a frequência das recompensas, bem devagarinho. Vamos fazer a timeline ficar infinita. Ou melhor: vamos dar mais destaque para os números. O que acontece? Será que ela vai se motivar a fazer a rodinha girar mais rápido? Não porque importe o que eu, Aline, como indivíduo, faça ou pense. No máximo sou uma linha numa tabela de dados. Pareço estar sozinha na sala, a tela iluminando meu rosto, o algoritmo um mordomo particular que me entrega de bandeja os sabores que mais apetecem ao meu paladar, quando na verdade aqui sou só uma sardinha seguindo na correnteza junto a uma massa de outras sardinhas iguais a mim. Previsível, especialmente quando resolvo escrever sobre isso e colar meus panfletinhos de insatisfação dentro da própria gaiola. Dizem que tem uma recompensa no centro do labirinto, tem sim, mas só para os mais espertos. Todos os dias eu penso no Império Romano. Será que passei no teste?