Escrevi tantas vezes as primeiras 10 mil palavras que agora (acho) que cheguei às primeiras 10 mil palavras.
É uma questão de ângulo; enquanto não encontro a forma que aquela história quer ser contada, a história não sai. Mas só tem um jeito de saber qual é a forma “certa”: escrevendo e reescrevendo. Principalmente o não ter medo de reescrever.
Estou pegando gosto por essa coisa de escrever histórias mais longas. Tem a questão de poder passar mais tempo em companhia de uma personagem, o que permite que eu possa ver – ou que ela deixe escapar sem querer – algum detalhe crucial sobre ela, suas verdadeiras motivações ou novas facetas da sua personalidade de uma forma que é meio difícil conseguir com pessoas da vida real.
Mas o mais legal é o que vai ficando pelo caminho. Aqueles textos de ensaio da personagem, uma cena que não vai entrar na história, mas que escrevo para entender melhor o que aconteceu, os fragmentos de ideias, as histórias ocultas por trás da história.
Quando aprendi a costurar – porque um dia essas mãos que digitam já bordaram muito ponto-cruz –, minha avó me ensinou que é importante cuidar do avesso, não deixar as linhas se emaranharem, evitar aqueles nós que são um monte de linha enrolada igual cabelo no ralo da pia. Ela me disse: “é pelo avesso que você vê se a costura foi mesmo bem feita”.
O avesso da minha escrita às vezes é o caos, mas forma um desenho tão interessante quanto o que fica do lado visível da costura. Gosto desse avesso sobretudo porque é exclusivamente meu – algo que só eu vi acontecer, algo que os personagens contaram para mim e pediram pelamordedeus, isso só entre nós, tá?
Alguma vantagem eu tinha que ter como autora, né.
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