Páginas de livros que encontrei por aí e me causaram faíscas.
Trechos do Capítulo VII: Histórias de amor e matrimônio do livro O poder do Mito de Joseph Campbell com Bill Moyers:
CAMPBELL: Os trovadores estavam muito interessados na psicologia do amor. E foram os primeiros, no Ocidente, a pensar no amor do modo como ainda o fazemos, hoje — como uma relação entre duas pessoas.
MOYERS: Como era antes disso?
CAMPBELL: Antes disso, o amor era simplesmente Eros, o deus que excita o apetite sexual. Isso não corresponde à experiência do apaixonar-se, da maneira como os trovadores a compreenderam. Eros é muito mais impessoal do que apaixonar-se. As pessoas não tinham conhecimento do Amor. O Amor é algo pessoal, que os trovadores reconheceram. Eros e Ágape são amores impessoais.
(…) Eros é um impulso biológico. É o entusiasmo dos órgãos por outros órgãos. O fator pessoal não conta. Ágape é “ama teu próximo como a ti mesmo”, o amor espiritual. Não importa quem seja o próximo.
(…) A experiência de Eros é uma espécie de arrebatamento. Na Índia, o deus do amor é um jovem forte, vigoroso, com um arco e uma aljava de setas. Os nomes das setas são “Agonia-Portadora-da-Morte”, “Revele-se” e assim por diante. Na verdade, ele apenas lança uma das setas na sua direção e produz uma explosão totalmente fisiológica, psicológica.
Já o outro amor, Ágape, é amar o próximo como a si mesmo. Outra vez, não importa que seja a pessoa. É o seu próximo, e você deve manifestar essa espécie de amor.
Mas, com o Amor, o que temos é um ideal puramente pessoal. Aquela espécie de arrebatamento que deriva do encontro dos olhares, como se diz na tradição trovadoresca, é uma experiência entre duas pessoas.
(…) É uma experiência pessoal, individual, e creio que esse é o aspecto essencial que torna grandioso o Ocidente, distinguindo-se de todas as outras tradições que eu conheço.
MOYERS: Então a coragem de amar se tornou a coragem de afirmar uma experiência individual contra a tradição — a tradição da Igreja. Por que isso foi importante na evolução do Ocidente?
CAMPBELL: Foi importante porque deu ao Ocidente essa ênfase no indivíduo, no sentido de que cada um tivesse fé na sua própria experiência, em vez de simplesmente repetir o que lhe era imposto pelos outros. Isso sublinha a vaidade da experiência individual no tocante à humanidade, à vida, aos valores, contra o caráter monolítico do sistema. O sistema monolítico é um sistema mecânico: cada máquina funciona exatamente como qualquer outra, saída da mesma oficina.
(…)MOYERS: E a libido?
CAMPBELL: A libido é o impulso para a vida. Vem do coração.
MOYERS: E o coração é…
CAMPBELL: … o coração é o órgão que se abre para o outro. É a qualidade humana, em oposição às qualidades animais, que têm a ver com o interesse próprio de cada um.