Amor,
Vim para aceitar que você tem razão quando me diz para ter paciência. Entendi isso quando Adriana Calcanhoto mandou tudo Pelos Ares e disse: logo estará tudo no seu lugar.
Uma hora a gente volta para casa. É como viajar de carro. Mesmo pra nós, que gostamos da estrada, é uma puta de uma viagem, fica chato, cansa ficar parado, comprimido no mesmo espaço, enquanto tudo parece passar acelerado demais do lado de fora. Nem por isso faz sentido saltar do carro em movimento, né?
A gente sai para sentir falta. Depois de enfrentar o trajeto, voltar tem um gosto especial. Sentimos tudo com outros olhos, vemos valor no que era escondido, invisível. Mas, primeiro, temos que ir. Com tudo. Largar mão da terra conhecida. Ir e vir, partir e voltar de novo.
Reparou que viver é boa parte do tempo fazer movimento de sanfona? Tensiona e relaxa. Inspira e expira. Dois pra lá, dois pra cá.
Me vem tudo isso ouvindo o tango da Calcanhoto e me dá vontade de dançar com alguém (eu, que não sou muito chegada a dançar de dois), ou com uma galera, só para me ressincronizar no ritmo dos outros. Não agora; não são tempos de dançar, de corpos juntos, de atravessar o campo das linhas imaginárias. É outro momento da viagem. Agora, olhamos para a pista com atenção; agora, dirigimos com cuidado.
Virá o momento da dança, e de provar da bebida no copo de alguém, e de sujar vasilhas na casa dos outros. Vai ser tão bom que eu vou chorar. Mas não tem muito o que fazer além de aproveitar esta parte da viagem, de viver todas as turbulências.
Nosso espírito vai precisar ser viajante, para conseguirmos nos tocar à distância. Mas tudo bem, vamos encontrando outras formas de exercer presença. Há muito o que pode viajar pelos ares. As palavras, por exemplo.
Elas sempre podem ser o caminho para alcançarmos um ao outro.
Só ter paciência!
Beijo,
Aline.