Sinto-me velha rolando os feeds. Só adolescente no Twitter. Bebês que vejo virar crianças no Instagram, um timelapse em ritmo alucinado acontecendo 15 segundos por vez. E o Tik Tok, aquela gritaria, repetição, voz distorcida, aquele exagero todo, tudo meio constrangedor: não é pra mim esse troço. Já foi. Chamava rock.
Envelheço a cada acesso porque as redes se revelam ralos, dragam o meu tempo, feito beijo mortal de dementador. Metáfora com Harry Potter já é coisa de velho, né?
Tenho preguiça das redes. Que é diferente de ter preguiça na rede. Quero fechar tudo, dar as costas e adeus, até nunca mais. Quero voltar com o blog, é isso. Começo a escrever sem saber onde vai dar e clicar em “enviar” sem pensar demais. Que saudades eu tinha disso.
Tenho saudades de trocar cartas, de trocar emails com os amigos. Era bom quando as pessoas se escreviam. Ou vai ver sinto falta é dos amigos. Eu sei, eles estão nas redes. As redes me avisam que eles estão interagindo comigo, mas me parece estranho conversar num lugar onde todo mundo está fazendo propaganda. É como se a gente só se encontrasse dentro de shopping. E se encontrar em shopping, pelo amor de DEUS, é coisa de jovem.
Devem existir livros de literatura contemporânea que incorporem na história ou na forma essa questão das redes sociais. De adultos lidando com redes sociais. Deve existir, mas não conheço ou não me lembro. Vai ver por isso me falte repertório para explorar o tema como eu gostaria, com alguma naturalidade.
É difícil escrever sobre o que não escreveram nenhum dos escritores que me formaram. Não tiveram tempo. Não me deixaram um vocabulário pronto sobre como manejar o trânsito da nossa consciência nos desenhos de uma nova pista, essas, de corações virtuais, de lives, de presença online. Eu que lute. Terei eu, e a minha geração, que descobrir como fazer poesia disso tudo. Eu que lute para criar meu próprio vocabulário.
Cerca de metade dos jovens nascidos em 1998 não conhecem No Scrubs. Achei um absurdo. Vi numa pesquisa para investigar as lacunas geracionais nas memórias sobre música. Fiz o teste. Não reconheci a maioria das músicas que tocaram para mim, lançadas perto do meu ano de nascimento, que vão ter menos chances de serem lembradas pela geração seguinte e assim sucessivamente até sumirem.
O esquecimento vem. Tudo o que nos parece absoluto é, na verdade, temporário.
No Instagram, minhas contemporâneas postam sobre o Dia da Gestante. No Twitter, uma discussão sobre transar com mais pessoas para transar melhor. I’m too old for the shit, já diria aquele tiozinho de Máquina Mortífera.
Eu até me interessava pelas tretas na internet, mas as de hoje em dia me dão preguiça. Todas. Só quero ficar aqui na calçada pitando meu cigarrinho assistindo as confusões que os jovens armam no meio da rua.
Ficar da calçada vendo o tempo passar, me inteirar dos assuntos todos e se me perguntarem das histórias que eu vi, eu conto. Uma tiazinha fofoqueira de rua. Eu me tornei quem eu mais temia!
Volto ao que me é familiar, volto a tempos extintos. Revejo Mad Men e volto a uma época racista & machista para um caralho que ainda bem nunca vivi, mas que me fascina pelo ângulo que a série escolheu me mostrar (justamente por não ignorar a escrotidão daquele mundo, daquelas personagens). Volto sobretudo porque é uma reprise e eu não aguento mais tanta novidade.
Volto ao blog. Quem ainda lê blog? Não tem importância. O que eu precisava era desse registro, que uma mulher ainda mais velha vai poder ler e entender de uma forma muito melhor do que eu consigo agora.
Volto na tentativa de encontrar um lugar, qualquer que seja, onde eu possa falar a mesma língua das outras pessoas, e as pessoas me entenderem de volta, antes que mais essa conversa acabe, simplesmente por não haver mais o que ser dito.