Minhas melhores ideias chegam nos breves cochilos. Naquela moleza noturna depois de um dia inteiro com corpo e mente empenhando-se em resolver os mais variados problemas. Elas chegam quando as luzes estão baixas, quando a consciência passa pela portinha para se despedir. São essas as ideias que encostam no inconsciente e portanto adquirem uma substância especial, um sabor (ou saber) diferente.
Também costumam ser boas porque vêm naquele momento em que até posso manuseá-las com a mente e experimentar que formas podem adquirir, mas vou ter preguiça de levantar e anotar, endurecendo-as em palavras; desse modo, a ideia vai mole comigo para a cama e dorme em meu travesseiro, onde fermenta enquanto eu sonho.
Quando acordo para anotar, ela está amadurecida. Então a jogo no papel e ela pode ganhar o aspecto e o brilho do início da manhã.
Por isso, o melhor companheiro para as primeiras horas do dia é o papel. Um livro para ler, um caderno para escrever. As telas que brilham por luz própria precisam vir depois, para que essa luminosidade (que nos absorve por completo quando fisgam nosso olhar) não rompa a membrana frágil que embala uma ideia recém-nascida.
Qual a melhor hora para criar? É de manhã, quando a mente está descansada? É na energia da tarde? Ou na sonolência da noite? Quantas horas são necessárias por dia para escrever ou desenhar ou pintar ou compor uma música? Qual o melhor momento para se dedicar a pensar? E qual o mais recomendado para começar a fazer?
A resposta é que não há uma resposta certa. Cada pessoa funciona de uma forma diferente. O importante é encontrar uma rotina ou processo que se adeque a você.
Este episódio do meu podcast Bobagens Imperdíveis trata sobre isso. Nele, conto a rotina criativa de diversos artistas, das corridas diárias do escritor Murakami ao diário de Sylvia Plath, para descobrirmos quão diversas podem ser as rotinas e, em meio a isso, refletirmos sobre como funciona nosso próprio processo.