Fuçando meus backups, encontrei este ensaio que fiz em 2015, a única vez que posei nua, para as lentes do Marcos Felipe. A gente tinha essa ideia maluca de fazer um ensaio nu bem conceitualzão, que focasse nos detalhes mais imperceptíveis do corpo: pintas, pelos, pele, dobras, texturas, pintas, cicatrizes. Lembro de ter publicado em alguma newsletter, com um texto que (acho) entrou no livro. Achei interessante como, em zoom, esses detalhes se descolam do corpo, ficam ambíguos, estranhos até. Em zoom, o corpo vira um território gigante, cheio de áreas desconhecidas. Observando esse território daqui, 4 anos depois, fiquei pensando em como ele é o mesmo em muitos aspectos, mas tão diferente em outros (o cabelo é talvez a mais evidente das mudanças). Mudou a flexibilidade deste corpo, músculos ficaram mais fortes, vieram mais pintas, novas dobras, pelos cresceram e foram cortados, células morreram; este corpo ganhou mais 2 tatuagens e, na última semana, perdeu 2 dentes. Recordar é olhar para algo que mudou, para uma das etapas de algo que está em processo. No caso, este território – que mudou tanto, e continua mudando, com ganhos e perdas no meio do caminho. Veio em boa hora a recordação, num momento em que me convenci que não consigo mudar ou avançar, que estou presa nessa fatalidade de ser quem sou e repetir meus erros. Mas se o corpo, matéria feita de osso duro e carnes sólidas, consegue ser elástico e mudar, porque a mente não seria? Talvez demore. Tenho tempos lentos, como os de continentes se afastando devagar. Mas daqui a alguns anos, quando o hoje for apenas uma recordação, vou olhar para cá e saber: ih rapaz, num é que mudei mesmo?