A água estava gelada. A correnteza ia batendo na altura da canela e das pedras ao decorrer do rio. Rasinho, veja bem, ou eu nem estaria lá.
Fomos mais para cima no rio, onde as pedras davam lugar ao cascalho grosso, o mais próximo de areia que se tinha. Foi por ali que outro dia vimos atravessar um teiú, cabecinha para fora, pernas batendo feito loucas, preocupado em não ser arrastado para perto de nós.
– Credo, tem gente ali!
Eu não queria sair. Descobri que sou um animalzinho de água doce, daqueles que ficam no raso. Mas uma hora eu teria que fazer o caminho de volta. Deixei que fossem na frente.
Era preciso ir devagar, olhando bem para o fundo, para onde meter os pés. Pedras demais. As mãos também iam buscando apoio; íamos quase agachados, como se jogando capoeira.
Não adiantava tentar copiar o caminho do coleguinha. Por mais que se tentasse seguir mais ou menos a trilha que o outro encontrasse dentro d’água, cada um fazia um caminho único, um caminho que surgia um passo após o outro.
“Um homem não passa pelo mesmo rio duas vezes”, não era esse o provérbio? Mas a lição que o rio tentava me mostrar era outra:
Cada pessoa faz um caminho diferente, ainda que estejamos indo para o mesmo lugar.
Quantas vezes não olhamos para o trajeto do outro e nos frustramos porque vemos que não passamos pelas mesmas etapas, ou porque nossos obstáculos são diferentes, ou porque seguimos mais devagar?
Isso de viver num mundo de seguidos e seguidores faz esquecer que nosso caminho não será o mesmo traçado por outras pessoas, não importa o quanto nos esforcemos em segui-las.
Durante o caminho das pedras, viver as pedras é mais importante do que sair delas. Porque no final, depois de atravessar o rio e chegar às margens seguras e lamacentas, a única coisa que pude levar dali foi o desenho imaginário que meu caminho traçou entre as pedras.
Um desenho só meu, que ninguém jamais conseguirá copiar.
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