Um post em construção.
1.
Endereços: ter que mudar de casa o tempo inteiro conforme o vento muda de direção.
Encerram uma rede social aqui, carregamos a casa nas costas para outro canto. Abrem uma nova rede social ali, levamos na mala o necessário para habitar nela aos fins de semana ou quando tivermos aquela foto bacana para compartilhar. Mudam um algoritmo acolá, pronto, estamos desabrigados de novo.
Ou: na internet não se mora, no máximo se hospeda. Feito um Airbnb só para pessoas legais que sim, como não, temos wi-fi, cozinha & TV (mas você não vai fugir das propagandas que colocamos debaixo do cobertor).
Esses lugares que me deram para eu preencher com minha vida, nenhum deles é meu. A qualquer hora derrubam as paredes e já não terei onde pendurar aquele quadro maneiro, que as visitas vinham elogiar e dizer puxa, que bom gosto eu tenho, veja, estou te notando, agora você pode saber que existe. Derrubam as paredes, levam o teto, a privada e até as visitas. As visitas nunca foram para mim.
2.
O instagram de Virginia Woolf seria uma sequência de fotos de pessoas em ângulos esquisitos, meio borrados. Não seriam pessoas famosas, influentes, sequer bonitas. Pessoas quaisquer, pessoas que nem se deram ao trabalho de posar para as fotos (a maioria sequer perceberia que foi fotografada). Ela também não se daria ao trabalho de enquadrar, achar o foco; usar filtro? Pf, nem se incomodaria. Mas postaria, como quem coleciona figurinhas.
Virginia Woolf também se fotografaria, mas não pensaria muito sobre isso. Não faria um grande caso de ter que se maquiar e achar a luz certa. Fotografaria e pronto. Nem meteria legenda. Não perderia tempo com isso. Emojis. Sim, ela só usaria emojis na legenda, uma sequência ilógica de estrelinha-beijoca-semáforo-croissant-soco-soco-bandeira-da-suíça.
Economizaria nas legendas não porque não tivesse o que dizer, mas porque reservaria a escrita para outro propósito. No intervalo entre uma foto e outra escreveria uma cena genial, porque não ficou o tempo inteiro checando quantos coraçõezinhos recebeu.
(receberia uma média de 50 curtidas, não seria muito popular).
Ou talvez Virginia Woolf só foi quem foi porque nunca teve um instagram.
3.
Ninguém nunca precisou de desculpa pra tirar a roupa.
Desde os tempos mais primórdios. Deste tempos mais puritanos do que o nosso (se é que isso realmente existiu ou se é apenas uma projeção fantasiosa de quem tem um bocado de opiniões sobre séculos que não viveu).
Hoje é um pouco diferente, parece.
Dia desses, rolando o feed, vejo uma foto sensual. Ok. Daí a legenda, sempre ela. Algo como “eu sou a voz das que não tem voz” e achei um pouco de responsabilidade demais para um simples nude. Toda nudez precisa ser um puta manifesto político, e o mamilo tem que gritar representatividade, e a bunda nua é uma bandeira contra a opressão, etc etc.
Você só quer mostrar os peitos, amiga. Isso basta. Seus peitos não precisam ser porta-vozes da ONU. Sei lá. Liberdade também deveria ser não precisar revestir de justificativas coisas tão simples quanto ficar pelada.
(e eu só precisava de um pretexto para usar essas imagens que salvei e sempre quis usar mas não sabia onde)
4.
Não fazer ideia com o que a gente divide/dividiu o planeta é lindo e assustador ao mesmo tempo.
(edit 1.fev.2018): À esquerda, o dodô, extinto. À direita, o Balaeniceps rex, também conhecido como bico-de-tamanco, ave africana que pode chegar a até 1,40 de altura.
5.
(1.fev.2018)
Mother!, a princípio, me pareceu literal demais. Adaptação da Bíblia, daquelas que tem que ser católico demais para aproveitar 100% a experiência. Gosto do aspecto de sonho, em como a história, desancorada de seu status de metáfora de deus, natureza, criação, pecado original, etc, perde completamente o sentido.
Achei que o grande defeito do filme fosse entregar essa metáfora muito facilmente, não deixar espaço para outras interpretações. Até eu pensar que uma história, depois de alcançar o leitor ou espectador, sempre pode ter outras interpretações.
Então alcancei a minha. E Mother! me pareceu um filme bem menos bíblico do que eu imaginava.
A casa seria uma representação da psique humana. Ela é dividida em duas camadas: o ego, representado por Javier Bardem, o deus-poeta. E um tipo de consciência mais primordial, que ainda não decidi como chamar, representada pela dona-de-casa-natureza, Jennifer Lawrence. Seria o inconsciente? Não sei. Mas vamos chamar assim para efeitos práticos.
O ego é o que se acha todo-poderoso, o grande criador, apesar de ser o inconsciente que faz todo o trabalho duro de manter a casa em pé. Mesmo que se ache o fodão, o ego tem uma necessidade imensa de aprovação; por isso, para ele, não basta ficar sozinho com seu inconsciente, em sua mente. Ele não fica em paz. Ele precisa buscar, fora dele, essa validação do olhar do outro. Então ele começa a trazer outras pessoas para dentro de casa, porque é quando elas estão presentes que ele realmente pode se sentir poderoso.
A presença desse outro (o mundo, a sociedade, a família, amigos, enfim, outras pessoas, representadas pela apoteose de malucos que aparece na casa) projeta uma série de expectativas sobre o ego (ser um grande poeta, um bom anfitrião, um bom marido, etc), que, apesar de o alimentar (ele se torna criativo, animado e receptivo), é uma presença corrosiva para a psique.
Somente o inconsciente está preocupado em manter a saúde daquele espaço; o ego não está nem aí, ele quer aplausos, não importa a que custo. Então ele traz gente, gente, mais gente. E as pessoas, elas não tem limites. São como vampiros: uma vez que você os convida para entrar em casa, você está acabado. Elas vão sugar tudo o que podem.
E o ego cede (porque quer amor), e diz que a casa é delas, pode pegar o que quiser, comer de sua comida, dormir onde achar melhor. E a casa vai sendo dramaticamente destruída diante de um impotente inconsciente, que tenta gritar, mas nunca é ouvido.
As pessoas trazem seus próprios problemas para dentro daquela psique, tornando-a arena de questões que não pertencem a ela. Sobrecarregado, o inconsciente fica acuado, sufocado. Num momento extremo, o inconsciente, que conhece cada canto da casa e sabe onde fica o botão vermelho de mandar tudo pelos ares, se autodestrói.
Claro, a metáfora não se sustenta em 100% do filme, mas me fez pensar bastante. Inclusive perceber que a própria Bíblia seja uma grande alegoria sobre a mente humana, em que cabe a deus perfeitamente o papel do ego.
Ou ainda: o filme é sobre como qualquer coisa tende a se deteriorar quando começa a se popularizar e a encher de gente. Religiões, movimentos, redes sociais, estabelecimentos, cidades. Um planeta. Gente concentrada só tende a fazer merda. Pode ver.
6.
(3.fev.2018)
Não há filtro que esconda. Dá para saber quando alguém não está sendo sua verdade.
7.
(5.fev.2018)
Resposta de carta para leitora.
Oi, Lou! Tudo bem?
Não conhecia esse texto e confesso que tenho um pouco de preguiça dessa discussão Woody-Allen-genialidade-separar-obra-do-artista; primeiro porque sou indiferente a Woody Allen, sua obra não me toca tanto assim a ponto de eu me engajar nessa discussão. Mas entendo o dilema de quem o considere genial e se sinta mal pelas coisas que ele fez.
O ingênuo na posição de quem condena toda a obra pelos crimes do artista é achar que pode consumir uma obra 100% pura, num tipo de veganismo-orgânico-cruelty-free cultural. É sempre sobre consumo. As pessoas acham que podem se tornar melhores a partir do que consomem. Melhores do que as outras. Você assiste obras de agressores sem problematizar? Então sou melhor que você! No final das contas, é isso.
Mas se formos catar as lêndeas do mundo da arte, e deixar de consumir tudo o que já foi criado por “monstros”, não sobra nada. Nadinha. Há os “monstros” do racismo, do estupro, da agressão. Há os das declarações equivocadas. Os coniventes com os sistemas de opressão (no fundo, todos nós). Os das pequenas babaquices do cotidiano, ou das ilegalidades menores, que passam desapercebidas pelas lentes dos grandes escândalos (porque o que é moralmente inaceitável varia de tempos em tempos).
Queremos, com toda razão, que os culpados por certos tipos de barbaridades desapareçam. Mas eles não vão desaparecer. Eles não podem simplesmente sumir, junto com toda sua obra. E essa é a principal frustração: que os monstros não possam ser extirpados da sociedade, que tenhamos que conviver com eles e suas ideias, porque eles nos lembram dos nossos monstros internos, os monstros que somos vez ou outra (ou, às vezes, com frequência), e isso é demais para lidarmos.
Queremos ser os mocinhos conscientes, puros, acima da moral. Mas somos mais complexos que isso. Temos em nós tanto o potencial para criar arte, coisas bonitas, comoventes e inteligentes, quanto o potencial de praticar a maldade, prejudicar o outro, destruir. Aí tenho que reconhecer a função social de um Woody Allen (apesar de achar seus filmes bem mais ou menos): ele serve para nos lembrar do incômodo fato de que esses dois lados habitam indivisíveis dentro de nós.
Quanto ao egoísmo: acho que concordo com a autora. Para escrever, é realmente preciso abandonar muita coisa. É preciso egoísmo para não ouvir o mundo ao redor (“você devia arrumar um emprego fixo”, “mulher não deveria escrever”, “mas quando você vai ter filhos?”, “literatura não leva a nada”, “tem que pensar na aposentadoria”, etc etc) e se dedicar a uma obsessão pessoal de se expressar, de mergulhar nas questões humanas, de investigar o mundo através da linguagem.
É aí que o escritor começa a se sentir especial, mas na verdade todo ser humano precisa abdicar de muita coisa quando faz uma escolha, seja ela qual for. É o egoísmo que nos move para uma carreira artística (o que eu tenho a dizer é importante!!) quanto para uma carreira tradicional (tenho minhas contas pra pagar!!). Não ter filhos (preciso focar na MINHA carreira, não tenho tempo pra cuidar de criança!!), é tão egoísta quanto TER filhos (quero passar os MEUS genes adiante, criar um ser humano com os MEUS valores, não importa o quanto isso custe ao planeta).
A nossa mera existência em sociedade é egoísta.
O egoísmo não tem gênero, ainda que possa adquirir aspectos e pesos diferentes na esfera feminina ou masculina. As pessoas vão fazer e defender o que for conveniente para elas. Algumas vão ser filhas da puta no processo. Outras menos. É ingenuidade achar que a opressão ou o julgamento desproporcional que recebemos por sermos mulher ou qualquer outra minoria vai nos redimir de nossas babaquices ou mesmo nos justificar quando/por que vacilamos. Não vai. Não deveria.
Não que dê para colocar todo tipo de egoísmo no mesmo balaio. Há várias nuances aí, até porque estamos dispostos em camadas bem heterogêneas. Há egoístas inofensivos, que conseguem minimizar os danos, prejudicar menos gente em função de suas escolhas; há aqueles cujo objeto de seu egoísmo vai, necessariamente, deixar muita gente na merda. Às vezes em escala de milhões.
E também tenho minhas dúvidas se todo tipo de egoísmo é ruim. Consigo imaginar muitos casos em que, para fazer algo bom, é preciso carregar um bocado dele na bagagem.
Escrever, acho, é uma dessas ocasiões.
Mas, das barbaridades que somos capazes de cometer, deixar uma parte do mundo para trás para conseguirmos criar boa arte me parece uma das menos perigosas. Sem dúvidas, um egoísmo de natureza mais inofensiva da de quem se acha superior por consumir obras de artistas ilibados (spoiler: não existe artista ilibado).
É isso, acho.
Um beijo,
8.
(15.fev.2018)
“Não dizem que alguém só consegue oferecer o que tem pra dar? Quem tem boas referências devolve pro mundo trabalhos mais ricos e sensíveis. Quem tem raiva só devolve raiva. Quem não absorve nada, não tem nada pra dar de volta.”
Do tipo de coisa que eu me surpreendo que foi eu mesma que escrevi.
9.
(18.fev.2018)
“Estamos na faixa dos 30 agora. Significa que pelo menos 3 grandes coisas já aprendemos na vida, pelo menos uma lição a cada 10 anos. Uma dos 0 aos 10, outra dos 10 aos 20, outra dos 20 aos 30.”
Então eu pensei o que eu teria aprendido. Vamos lá:
Dos 0 aos 10, aprendi que é importante seguir as regras. Fazer tudo certinho.
Dos 10 aos 20, aprendi que eu tenho capacidade de seguir as regras. Que eu consigo.
E dos 20 aos 30, aprendi que seguir direitinho as regras tinha me estragado.
30 anos de vida pra aprender que aprendi tudo errado desde o início.
10.
(6.mar.2018)
A foto é a forma mais fácil de criar algo. Primeiro, porque todo fucking celular tem uma câmera, e é mais fácil achar alguém com celular do que alguém com piolho. Pronto, ferramenta na mão. Carregamos no bolso para todos os lugares a oportunidade de fazer algo.
Nem anotar é tão fácil. Você vê algo e pensa “puxa, quero me lembrar disso depois”. O que você faz? Puxa sua caneta e seu bloquinho de anotações de jornalista e anota a descrição? Ou saca seu celular e tira uma foto? Ninguém se dá mais ao trabalho de anotar nem número de telefone em placa.
Na maioria das vezes eu nem tenho caneta na bolsa. “Ai, mas você é ESCRITOURA”, blá blá blá, me falavam isso desde que eu era redatora, mas eu não vejo muitos pintores andando pra todo lado com um pincel na mão.
A questão era a foto. A facilidade. Porque você só precisa ter um aparelho. Você não precisa tirar nada de lugar algum, materializar; nem ter ideia precisa na maioria das vezes. Basta registrar o que você vê, que já foi parar na sua frente PRONTO. Posicionar o trequinho e clicar. PUF. Você tem algo.
Não tenho exatamente um ponto a provar ainda, mas pense nisso. Em como é fácil ser alguém que FAZ coisas só porque tem acesso a celular e à internet.
11.
(6.fev.2018)
Sobre estilo: sinto que o meu não é muito definido. Fico perdida tentando encontrar o meu. No desenho sim, na escrita principalmente. Aí experimento. Faço diferente. Outras técnicas, outro material, como funciona? Não fico satisfeita. O ruído me incomoda. Me parece esquisito, inadequado. Os outros conseguem fazer isso de forma tão mais limpa, sabe? E o que tenho é uma bagunça, traço tremido, períodos longos demais, cores que fogem do controle, uma confusão de vozes de personagens pedindo passagem sem pedir licença. É esquisito quando a gente não está acostumado a ouvir a própria voz. Mas chega uma hora que a gente percebe que, bem, esse traço torto sou eu. Que o que parece ruído é textura, feito essa ilustração que na verdade é um monte de post its colados num papel lambuzado de acrílica. E que estilo é uma busca em direção a algo que a gente já tem: a nossa forma bem própria de resolver as coisas.
12.
(10.fev.2018)
O que mais me assusta na ideia da morte é o que vem depois, o que vão fazer com a minha memória, com a minha imagem, e que já não vou poder controlar (não que eu possa controlar muita coisa agora, mas enfim).
Quando eu morrer, não importa muito qual seja a época ou a causa mortis, quase posso imaginar uma galera surgindo para reivindicar minha memória. Dizer que me conhecia, que éramos tão próximos, quem sabe contar um episódio que confirme nossa amizade. “Ah, ela era uma pessoa especial, tão alegre”. “Era minha amiga, conversávamos tanto!”. E o que me irrita nessa ideia é que não vou estar viva para responder que é mentira!
Acho pavoroso isso. O corpo mal esfria e já vem gente se agarrar a ele, tornar a morte daquele ser humano uma história sobre si mesmo, sobre como o falecido fez parte da vida DELA. E muitas vezes nem é bem isso. Mas quem vai dizer que não é?
Então já quero deixar avisado. Quando eu morrer, se aparecer alguém dizendo que éramos amigas, que ela me conhecia, e ó, por isso lamenta tanto a perda (ou que não lamenta justamente porque ME CONHECIA, sabia que eu não ia querer ninguém sofrendo!), pode saber que é papinho. Essa pessoa não me conhece.
Quem é vivo é quem sabe.
13.
(10.fev.2018)
No mundo moderno, as pessoas não se falam
Ao contrário, se calam, se pisam, se traem, se matam
Embaralho as cartas da inveja e da traição
Copa, ouro e uma espada na mão
O que é bom é pra si e o que sobra é do outro
Que nem o sol que aquece, mas também apodrece o esgoto
– “A vida é desafio”, Racionais MC’s.
Racionais, únicos poetas possíveis.
14.
(6.jun.2018)
Turma de 7ª ou 8ª série saindo do colégio, passam no mercado para comprar refrigerante, lanches. Estou na fila, atrás deles, tentando imaginar naqueles rostos cheios de acnes, na postura desengonçada e nas vozes altas demais, os adultos que eles podem se tornar.
Não entendo absolutamente nada do que eles dizem. Só “véi”. Muito “véi”.
Estão falando em outra língua, tenho certeza. Desaprendi o idioma. É quando, com alguma tristeza, percebo o quanto adulteci, eu, velha, tentando catar algum significado no meio daquele falatório, e só conseguindo entender que ser jovem é falar alto demais e não fazer nenhum sentido.
Que falta eu sinto disso.
15.
(13.jun.2018)
Impressionante como leitura é um dos assuntos mais usados pra diminuir os outros. As pessoas não gostam de ler, elas gostam de se sentirem melhores que as outras.
Aí vira disputa, competição, um troço ridículo. Ai porque é impossível ler mais de 50 páginas, ai porque eu leio fácil o dobro disso, ai porque eu li 60 livros esse ano, ai porque minha meta de leitura, ai porque eu já li autor tal. Leitura virou isso de meu pau é maior que o seu.
(escrevi no Twitter, 5 de junho)
16.
(13.set.2018)
A quantidade de escritores falando do próprio processo e de como é ser escritor é inversamente proporcional à quantidade de gente interessada em saber como um escritor trabalha.
Nos damos toda essa autoimportância porque ninguém está olhando?
Só conseguimos enganar a nós mesmos com essas histórias quebradiças de sucesso, trabalho duro, amizades proveitosas com galera do meio. Tô para conhecer criatura mais solitária que gente que escreve.
Comecei a compartilhar no instagram algumas das frases que escrevo no meu caderno, assim bonitinhas, numa paleta de cores mui bem estudada.
Os conselhos são para mim mesma, sai.
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つづく