Na época em que o videocassete ainda era uma novidade lá em casa, ganhei do meu pai uma fita VHS, dessas vendidas em fascículos na banca de jornal, sobre o mergulhador Jacques Cousteau.
As imagens eram antigas, o áudio era em francês e eu não entendia em boa parte o que eles estavam fazendo ali, mas era grata por terem registrado aquelas imagens do oceano. Era fascinante.
Jacques Cousteau é o primeiro nome que vem à mente quando se fala em mergulho, e foi também o primeiro que conheci. Foi ele quem me apresentou à possibilidade de trabalhar com o oceano, o que nutriu, por algum tempo, a ideia louca de me tornar bióloga marinha um dia, aspiração que nos anos seguintes eu substituiria por outra e depois outra uma dezena de vezes.
Spoiler: não me tornei nem bióloga marinha nem mergulhadora – suspeito que o fato de eu não saber nadar e só ter tido contato com o mar na vida adulta tiveram um pouquinho a ver com isso –, mas as histórias de mergulhadores continuaram me fascinando.
Atualmente, estou trabalhando em um livro sobre o oceano, um romance sci-fi que será publicado no ano que vem pelo selo Fantástica da Editora Rocco, o que me fez mergulhar num trabalho de pesquisa que me levou, entre outras coisas, ao documentário Mission Blue, disponível na Netflix.
Mais do que sobre preservação do oceano, é uma emocionante história sobre persistência, vida e feminismo. Acima de tudo, Mission Blue me apresentou a Sylvia Earle – e me mostrou que as figuras inspiradoras do mergulho vão muito além de Jacques Cousteau. Algumas dessas heroínas, entre cientistas, exploradoras, instrutoras, atletas e pescadoras, apresento a seguir.
trailer do documentário Mission Blue
Ela mergulhou na ciência
Em Mission Blue, duas histórias se entrelaçam e se cruzam: a do oceano e a da oceanógrafa Sylvia Earle.
Esta mulher é uma grande e influente pesquisadora, cientista e exploradora, que por quatro décadas – e mais de 6 mil horas debaixo d’água – conduziu expedições que permitiram que hoje possuíssemos um conhecimento um pouco mais profundo sobre o oceano. Atualmente ela tem 80 anos, uma senhora baixinha com um grande sorriso e uma surpreendente disposição para mergulhar, pesquisar e defender aquilo que ela ama profundamente: o mar.
Pela idade dela, já dá para imaginar o quanto ela é pioneira. Ela começou sua carreira quando praticamente só homens dominavam a ciência e áreas de pesquisa, além de aprender o mergulho autônomo quando ainda era alguma novidade, pois esta forma de mergulho só foi possível quando Jacques Cousteau inventou o sistema “aqualung”, no início dos anos 40.
Em 1968, grávida de 4 meses, ela foi a primeira mulher a entrar em um submersível moderno, o Deep Diver. Em 1979, ela caminhou no fundo do oceano usando a Jim-Suit, um traje pressurizado que permitiu que ela fosse o primeiro ser humano a andar tão fundo – a cerca de 381 metros de profundidade.
Independente da profundidade, em toda a sua vida mergulhando, Sylvia certamente viu coisas impressionantes: animais que se comunicam produzindo luz nas profundezas escuras, peixes estranhos, recifes de corais, pequenas criaturas transparentes até às maiores baleias. Mas também viu coisas que lhe deram motivos para ficar preocupada: as coisas que jogamos no oceano e tudo o que tiramos dele.
Essa preocupação fez com que Sylvia se tornasse uma proeminente defensora da preservação dos oceanos, escrevendo diversos livros, promovendo palestras e defendendo que se criem mais e maiores áreas protegidas no mar: os chamados pontos de esperança. Para termos uma ideia do quanto isso é necessário, ela aponta que 12 por cento dos territórios no mundo estão protegidos de alguma forma (parques nacionais, reservas ambientais, etc), enquanto apenas 3 por cento do oceano (em um planeta predominantemente azul!) recebe alguma proteção. “Por vasto que seja, o oceano não é tão grande que não possamos acabar com ele”, Sylvia gosta de lembrar, com um tom de urgência.
Em um dos momentos que mais encheu meus olhos de lágrimas em Mission Blue, o apresentador que conduz a entrevista pergunta por que ela não para sequer um dia de trabalhar, por que não tirar férias? Ela responde:
“Se eu vejo uma criança caindo do décimo andar, eu não paro para fazer outra coisa e ‘ah, tudo bem, vai demorar ainda’. Não! Eu estendo os meus braços e faço de tudo para estar lá embaixo e segurá-la, eu vou dedicar todos os meus esforços para não deixar ela se machucar”.
Quanto amor há nessa dedicação de Sylvia para proteger o oceano. O que não poderia ser diferente considerando sua longa trajetória nesse fascinante mundo submerso. E um dos marcos iniciais dessa carreira – e o que deu a Sylvia notoriedade mundial – foi quando, nos anos 70, ela integrou uma equipe apenas de mulheres em uma base no fundo do oceano: o projeto Tektite II.
Tektite II
Imagine uma modesta habitação cilíndrica, capaz de abrigar quatro ou cinco pessoas. Imagine essas pessoas vivendo e trabalhando nesse espaço reduzido por sessenta dias. Agora considere que este hábitat está a 15 metros de profundidade, na costa das Ilhas Virgens. Este é o projeto Tektite, iniciado pela NASA em 1969 para simular um ambiente no espaço e estudar o comportamento dos pesquisadores.
Na segunda fase do projeto, o Tektite II, colocaram no habitát uma equipe inteiramente feminina, que ficou submersa para várias missões, durando até 14 dias consecutivos cada – e vale dizer que foi a primeira missão da NASA que incluiu mulheres!
Peggy Lucas Bond, a engenheira nesse time de heroínas, décadas depois de participar do projeto, contou:
“Uma das coisas que é provavelmente verdadeira para qualquer minoria, é que nosso time estava comprometido e determinado a fazer qualquer coisa melhor do que os homens fariam. Então as mulheres passavam mais horas na água do que qualquer um. Tipicamente, os times eram de duas pessoas que trabalhavam juntas em um projeto. Mas na nossa equipe isso era um bocado diferente. Tínhamos duas mulheres, Ann Hartline e Alina Szmant, que trabalharam em um projeto. Sylvia Earle e Renate True tinham seus próprios projetos cada uma, então frequentemente eu acabava sendo a parceira de uma delas, o que fazia com que eu saísse para mergulhar bastante.”
Ann, Sylvia, Alina, Renate e Peggy.
Apesar do pioneirismo do projeto e das coisas incríveis que elas estavam fazendo e descobrindo lá embaixo, as notícias e reportagens daquela época preferiam abordar o assunto com a superficialidade de uma revista de fofocas.
Ao noticiar o projeto Tektite II, em vez de falar sobre como era revolucionário ter pesquisadoras morando debaixo d’água, focavam em “musificar” a equipe, falando como eram beldades, sereias, e se não seria um problema tantas mulheres vivendo juntas dividindo apenas um secador de cabelo. Sem falar dos apelidos que as reduziam a enfeites: em vez de se referirem a elas como aquanautas, a mídia da época inventou nomes como “aquanettes”, “aquamaids” e até “aquachicks”.
Mesmo sendo cientistas e mergulhadoras experientes, era difícil serem levadas a sério. Quando Sylvia participou de uma outra expedição, a manchete foi: “Sylvia parte em um navio com 70 homens, mas ela espera não ter problemas”.
“Ah, mas isso foi nos anos 60, foi uma época muito machista”. Mas e quando em 2014 perguntam a uma engenheira russa, a primeira mulher a ser mandada para a Estação Espacial Internacional, como ela “manteria o penteado no espaço”? É, parece que pouco mudou.
Mas o trabalho, no final das contas, prevalece. Alina, que no projeto Tektite II estudou o comportamento de pequenos peixes, foi premiada pela American Academy of Underwater Sciences e hoje dá aulas sobre biologia de corais. “Eu não quero ver os recifes de coral desaparecendo porque estamos estragando o mundo”, ela diz, compartilhando das mesmas preocupações e do mesmo amor pela vida marinha que a sua colega Sylvia.
As parceiras Alina Szmant e Ann Hartline
Pioneiras
Os anos 60, nos Estados Unidos, foi mais um ano em que persistia a tensão racial, apesar de em 64 ter sido aprovada lei que tornava inconstitucional a segregação. Ainda assim, a violência continuava: em 1966, James Meredith, o primeiro negro a entrar na Universidade do Mississipi, fazia a “Marcha Contra o Medo”, andando do Memphis, Tenessee, até Jackson, no estado do Mississipi, para encorajar mais negros dos estados do Sul a se registrarem como eleitores, mas foi baleado por um sniper.
O racismo tentava deter o avanço das pessoas negras, mas nem sempre conseguia: 1966 também foi o ano em que Shirley Lee se tornou a primeira mergulhadora negra certificada nos Estados Unidos da América.
Shirley nasceu na Virginia, onde sempre se destacou na adolescência como uma excelente nadadora, e chegou a trabalhar alguns anos como salva-vidas em piscinas. Mas ela queria ir além e queria ir mais fundo: na piscina de um clube, ela conheceu um membro de um clube de mergulho, e pediu para que ele a ensinasse a mergulhar. Um ano depois, ela conseguiria seu certificado e se tornaria membro do clube.
Hoje, Shirley é uma avó de 80 anos que vive em sua cidade natal, mas o mergulho deu a ela um monte de histórias interessantes para contar. Em função do mergulho, ela conheceu lugares como Marrocos, África do Sul, Egito, Malásia, Haiti e Caribe de uma forma que poucos têm a chance de conhecer: de dentro do oceano. Ela alcançou a marca de mais de mil mergulhos ao decorrer da sua carreira, apareceu em diversas publicações, como a revista Ebony, é até citada em livros, além de ter entrado para o Hall da Fama do mergulho.
Ella Jean Morgan é outra pioneira: ela se tornou a primeira instrutora de mergulho negra no mundo, ao conseguir sua certificação de instrutora em 1983. Ela se formou em Biologia e se especializou como bióloga marinha na Califórnia, onde, depois de passar nos testes de habilidades de mergulho, entrou para o curso de dive master e de assistente de instrutor.
Entre os alunos desse curso, eram cinco homens, Ella Jean e mais uma mulher: Erin O’Neill. As duas foram as únicas a completar todo o curso, tornando-se instrutoras, juntas, em 1983.
A história das duas é a prova de que a rivalidade feminina não passa de um mito: Ella e Erin se tornaram ali grandes amigas para a vida toda, inclusive fundando juntas a empresa Morgan/O’Neill Underwater Company, especializada em ensinar mergulho a mulheres. Ella e Erin também escreveram juntas o livro “When Woman Dives”, além de produzirem vasto material de foto e vídeo sobre a vida marinha por onde passavam.
Ella Jean Morgan morreu aos 75 anos, no ano passado. Sua vida foi dedicada ao ensino, mas também a grandes aventuras: ela sempre gostou de fazer trilhas na floresta, acampar, fazer observação de pássaros e até mergulhar em cavernas.
Se os cenários e tipos de vida que ela encontrava em seus momentos de “hobby” eram impressionantes, o que ela via em seus momentos de trabalho não ficava para trás. Sobre suas experiências favoritas, ela chegou a elencar: as interações com a vida marinha, os corais de recife perfeitos e intocados da Indonésia, as florestas de algas marinhas na costa oeste americana, liderar expedições de mergulhos só com mulheres e formar mergulhadores competentes, habilidosos e seguros.
fotografia tirada por Erin O’Neill em um mergulho ao sul da Califórnia
Recordistas
O mergulho em apneia me tira o fôlego de tão impressionante: é uma modalidade que consiste em mergulhar dispondo apenas de seus pulmões e de uma extrema consciência corporal. No chamado mergulho livre, o mergulhador desce dezenas de metros, desafiando a pressão da água e a falta de oxigênio.
Entre os corajosos e corajosas da apneia, a mergulhadora Tanya Streeter se destaca. Em 2002, Tanya estava determinada a estabelecer não apenas o recorde de mergulho livre feminino, mas também o recorde masculino. Ela queria ser a pessoa a mergulhar mais fundo contando apenas com seus pulmões. E ela conseguiu.
Como ela conta, não foi nenhum passeio no parque. É sempre um grande risco mergulhar em apneia e ela percebeu, nos primeiros momentos, que ela havia enchido demais os pulmões, o que apertou seu coração e dificultou o bombeamento de sangue para seu cérebro. Ela apagou por alguns instantes. Quando retornou, pensou que talvez fosse melhor desistir, que não conseguiria quebrar o recorde. Mas ela foi em frente e continuou descendo; queria saber até que ponto ela conseguiria ir.
Tanya Streeter, em momento de apneia
Quando chegou no ponto mais fundo do mergulho, ela encontrou com o maior inimigo dos mergulhadores: a narcose, quando a alta pressão das profundezas faz o nitrogênio começar a se dissolver no organismo e intoxicar o sangue. A narcose deixa o mergulhador atordoado e com os movimentos pesados, algo parecido com uma embriaguez. Tanya estava nesse estado quando atingiu o fundo e quase não conseguiu se soltar da estrutura que a levou até lá embaixo. Por pouco, ela não morreu nessa tentativa. Mas ela conseguiu retornar à superfície e respirou aliviada: o recorde era dela.
Ela atingiu 160 metros na modalidade no limits apnea, na época um recorde para ambos os gêneros e, ainda hoje, é o recorde entre as mulheres.
Esse, no entanto, não era o mais longe que ela podia chegar. Ela percebeu que sua notoriedade como recordista tinha um propósito, e decidiu se tornar porta-voz e patrona de uma organização ambiental que luta para conscientizar sobre a poluição dos oceanos, a Plastic Oceans.
No vídeo abaixo, Tanya fala como parte o coração entrar naquele mundo azul e encontrar lixo e plástico boiando ou repousando no fundo do oceano. Mas vê-la mergulhar é uma coisa linda:
Tanya sentiu que fazer um trabalho de conscientização ambiental e lutar pela limpeza e preservação do oceano era uma forma de soprar um beijo de agradecimento ao mar por tê-la deixado mergulhar tão fundo:
“Aprendi que redefinir limites não é sobre ser a melhor no mundo, nem sobre ser a melhor no meu mundo; a esta altura, isso significa ser a melhor para o nosso mundo.”
A maioria dos recordes nas outras modalidades ainda pertence a Natalia Molchanova, campeã mundial de mergulho livre e multi-recordista que simplesmente desapareceu no oceano durante um mergulho recreativo no dia 2 de agosto deste ano. 3 dias de intensas buscas e ela não foi encontrada.
Molchanova, que nasceu na Rússia há 53 anos, mergulhava a 30 metros de profundidade quando desapareceu – nem perto dos quase cem metros que ela estava acostumada a atingir nas competições.
Molchanova e a profundidade atingida
Há alguns anos, ela e a britânica Sara Campbell eram as duas mulheres que estavam mais próximas de chegar aos 100 metros de profundidade na modalidade apneia com peso constante, e era uma disputa acirrada: Campbell chegava a noventa, Molchanova chegava a noventa e cinco, Cambpell chegava a noventa e seis e assim por diante.
Quando Molchanova ainda queria ser a primeira a chegar a 100m (spoiler: ela alcançou 101m, o recorde atual), ela contou numa entrevista a parte psicológica que permitia a ela ter foco no mergulho:
“A ‘atenção desconcentrada’ significa distribuir todo o campo de atenção, tentar sentir tudo simultaneamente. Essa condição cria uma consciência vazia, então os maus pensamentos não existem. É uma técnica que era usada por samurais, mas foi desenvolvida por um cientista russo como uma técnica para pessoas que faziam trabalhos muito monótonos. Basicamente, todo o tempo em que estou mergulhando, eu tenho a consciência vazia. Tenho uma espécie de melodia no fundo da minha mente que me faz continuar, mas eu não estou completamente dentro da minha cabeça.”
O preparo psicológico de Molchanova e o impulso de seguir mais e mais fundo faziam dela uma super-heroína do mergulho que nenhuma outra conseguiu alcançar; só mesmo o próprio mar teria o poder de pará-la.
Uma antiga tradição
Em alguma pacata vila de pescadores na costa do Japão, entre o século XIX e XX, seria possível ver várias mulheres japonesas na praia, preparando redes, cordas e máscaras de mergulho para mais um dia de trabalho.
Essas mulheres eram chamadas ama (海女), palavra que significa “mulheres do mar”, e mergulhavam nuas, no máximo com uma tanga, pés de pato e uma máscara, contando apenas com seus pulmões debaixo d’água.
Hábeis mergulhadoras, elas desciam em apneia a cerca de 18 metros de profundidade, ficando até dois minutos debaixo d’água e voltando para respirar por poucos segundos, para descer e repetir tudo de novo. Elas faziam isso até 60 vezes em cada sessão de mergulho, em uma água congelante, para coletar ostras e abalones – um tipo de molusco comestível que produz uma pérola incrivelmente colorida.
Para nós pode parecer algo exótico e até “sensual”, mas a nudez das ama era por questões práticas: na época em que elas atuavam, não existiam tecidos próprios para o mergulho; o algodão e os tecidos mais comuns absorviam a água, ficavam pesados e encharcados, o que fazia a temperatura do corpo baixar.
fotografia de Iwase Yoshiyuke
Nuas, elas conseguiam mergulhar mais livremente e manter o corpo mais aquecido. Acreditava-se que as mulheres eram mais apropriadas para esse trabalho porque seus corpos eram mais quentes e elas conseguiam ficar mais tempo debaixo d’água. Não é certo se por isso ou se pela habilidade delas no mergulho, mas elas conseguiam fazer muito mais dinheiro que os homens nessa atividade, e portanto dominaram o “mercado”.
Lá pelos anos 50, no período pós-Guerra, o Japão começou a receber um grande fluxo de turistas, e com isso veio o assédio e a sexualização que forçou as ama a se vestirem para o trabalho. O fotógrafo Iwase Yoshiyuki, nascido numa vila de pescadores, captou um dos últimos registros dessa tradição, que começou a desaparecer depois dessa época.
fotografia de Iwase Yoshiyuke
As ama envelheceram e não conseguiram se renovar porque, para as novas gerações, esse não era mais um trabalho que valia a pena. A pesca, agora feita em escalas industriais, com métodos muito mais modernos e rápidos, fez a pesca artesanal das ama ir perdendo o valor e desaparecendo, com a mesma velocidade que foi depredando o oceano.
Uma mergulhadora ama dos dias de hoje fotografada por Nina Poppe
Na Coréia do Sul, as “mulheres do mar” atendem pelo nome haenyeo (해녀). Elas também mergulham em apneia, às vezes com pesos em volta da cintura para ajudá-las a afundar mais rápido, e coletam frutos do mar no fundo do oceano.
Por lá, elas também estão desaparecendo, mas continuam em atividade: atualmente são cerca de 250 haenyeo trabalhando, número que caiu drasticamente dos anos 70 pra cá. Mais da metade das que restaram têm mais de 60 anos; a mais nova já tem 38 anos.
Yun Chunkun e Jung Soonok, haenyeos fotografadas por Hyung S. Kim
O fotógrafo Hyung S. Kim também fotografou essas senhoras pescadoras – a mais velha tinha 90 anos e ainda mergulhava! – como tentativa de eternizar uma profissão que em breve deixará de existir.
É uma pena imaginar que em pouco tempo imagens como a do vídeo abaixo possam não existir mais; tanto pela extinção do trabalho das haenyeo quanto pela destruição que estamos infligindo ao oceano.
Amor pelo oceano
onhecendo a história de todas essas mulheres, é impossível não ver o profundo amor e respeito que nutrem pelo mar.
Um momento marcante do documentário Mission Blue é quando Sylvia Earle volta ao Mar de Corais décadas depois de visitar o local pela primeira vez. Era um lugar lindo, cheio de vida, peixes, cores, uma verdadeira cidade submersa. Hoje, restaram apenas ruínas: corais cinzentos, mortos, um grande cemitério, praticamente nenhum peixe.
Quando Sylvia volta para a superfície, sua tristeza é tão grande que me rasgou por dentro e tive vontade de chorar por ela. Nós fizemos isso. Um oceano tão incrivelmente grande, com tantos bilhões de anos, e estamos matando ele.
“Sessenta anos atrás, quando comecei a explorar o oceano, ninguém imaginava que poderíamos fazer qualquer coisa para destruí-lo. Mas agora estamos olhando para um paraíso perdido.”
A história dessas mulheres não é apenas brilhante pela carreira individual de cada uma; mas por chamar a atenção para o fato de como o oceano é importante para cada história – a delas ou a nossa.
Espero que elas possam inspirar uma nova geração de heroínas do mergulho e que continuem inspirando as pessoas a preservar o oceano; somente com o oceano vivo será possível contar mais histórias como essas – ou ter, como humanidade, alguma chance de existir no futuro.
Dra. Sylvia Earle abraçando o oceano