Por que sofrer pra escrever? Ficar se martirizando em frente a uma tela (ou papel) em branco, se achando uma fraude, anotando no papel todas as palavras que vêm à cabeça só pra ter a sensação de que está escrevendo alguma coisa?
Papel. Dedo. Janela. Caneta. Borracha. Peixe. Café. Trânsito. Papagaio. Bloqueio. Bloqueio. Bloqueio.
Shiu. Você não precisa fazer isso.
Se não consegue escrever, não escreva.
A gente sofre pra escrever aquilo que não gosta. A Olivia já disse que as partes chatas de ler em um livro geralmente foram as partes chatas de escrever – o leitor consegue sentir o tédio do escritor.
Sei disso também porque eu trabalhava escrevendo propaganda e, céus, como eu sofria pra escrever títulos. Ficava me martirizando na frente da página vazia do Word, e as palavras saíam esfoladas, marteladas, porque só saíam à força, na porrada. Eu odiava escrever propaganda. Talvez por isso eu nunca tenha emocionado alguém com meus anúncios como emociono hoje com os textos que publico aqui.
Escrever por obrigação também vai matando, aos pouquinhos, o tesão. Foi o que me contou um amigo que também vive da propaganda. Eu queria dizer a ele o quanto gosto de seus contos, das histórias malucas e personagens que ele inventa. Mas também queria dizer a ele que se ele não consegue mais escrever as coisas que escrevia por prazer… então não escreva. Tá tudo bem.
Se você sofre pra escrever, eu te entendo bem. Been there. E é por isso que dou essa sugestão; é algo que tento aplicar pra mim mesma.
Se não consegue escrever, não escreva.
Vá jogar video-game. Responder e-mails. Ver seriado. Ler um livro. Passear no parque. Fazer um lanche. Cozinhar. Viajar. Pedalar. Transar. Fazer amizade com um desconhecido na praça de alimentação. Resgatar um gato de rua perto da sua casa. Ir ao cinema e assistir qualquer coisa que estiver em cartaz. Conversar com a sua avó sobre as histórias da infância dela.
Qualquer coisa. Só saia da frente dessa maldita folha em branco.
Simplesmente vai chegar uma hora em que você vai ter tanta vontade de escrever, que você vai simplesmente conseguir escrever. Não falo aqui de “inspiração”, de esperar que algo caia do céu e te faça escrever, não; falo de uma vontade visceral e verdadeira que esteve dentro de você o tempo inteiro e que, depois de desperta, simplesmente não pode ser detida.
É nessa hora que você consegue escrever. E vai ser lindo – como todas as coisas quando você é livre para fazê-las.
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Fotografia: Derrick Lin, daqui.