Comer, transar, dormir, cagar, ler e escrever na internet. Não necessariamente nesta ordem, estes são os pilares da minha existência atualmente. Faço essas coisas para continuar existindo & existo para poder fazer essas coisas.
São o centro do meu sistema solar, ao redor dos quais a minha vida gira.
De escrever, eu gosto. Sem dúvidas. Mais do que uma necessidade (como os mais românticos gostam de idealizar), é o meu trabalho. Faço isso todos os dias, o dia inteiro. Escrevo mais do que cago – não é difícil imaginar que meu intestino seja mais lento do que minhas ideias e os dedos que as colocam na tela do computador, né.
Escrevo, isso vocês já entenderam. Mas, acima de tudo, escrevo na internet – o que posso até dizer que gosto de fazer, APESAR de ser na internet.
Vamos lá, escrever na internet não é exatamente uma maravilha.
E nem falo isso pensando no que se tornou o departamento de comentários, que já recomendei mil vezes que se mantesse distância dele.
Na internet, os textos são mais efêmeros. Acho meio desanimador passar, muitas vezes, semanas elaborando um raciocínio e desenvolvendo uma ideia para transformar em um texto que será lido por dois dias, com alguma sorte.
Na feira e na internet, o frescor é tudo. A diferença é que na feira, pelo menos, você encontra coisas mais saudáveis. Na internet, o consumo de conteúdo é descontrolado, atentando pouco para a qualidade do que se está consumindo e mais para a rapidez com que você consegue colocar tudo para dentro.
Há alguns dias, li um texto muito bom onde o autor questiona justamente essa insaciedade pelo novo:
“O agora está cada vez mais curto e as pessoas que frequentam a internet estão obcecadas por se sentirem atualizadas, seja lá o que isso signifique, no sentido imediatista do termo. Obcecadas pelo que não é #old. E o #old está cada vez mais no calcanhar dessa gente toda.” (Vou parar de blogar, Alessandro Martins)
Isso me desanima. Porque eu não quero escrever apenas para manter essa roda girando cada vez mais rápido. Não quero escrever apenas para alimentar uma fome incontrolável de um motor movido a polêmicas e chorume. Não quero escrever apenas para preencher um espaço.
Escrevo na internet por outros motivos.
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Um texto só está pronto quando é lido por alguém. Essa foi uma das coisas mais importantes que aprendi antes mesmo de começar nesse negócio todo. E eu concordo.
Não nasci escritora pronta. Sequer acredito em talento, em dom, em vocação pra coisa. Tudo o que posso fazer é trabalhar duro e aprender sempre para continuar escrevendo, e conseguir escrever cada dia melhor. É isso ou procurar outra coisa para fazer – de preferência que envolva ir para a praia viver das coisas que a natureza dá pra gente.
É por isso que me empenho em publicar boa parte do que eu escrevo – e a internet me ajuda nisso. Porque pra mim só tem um jeito de saber se o que estou escrevendo presta ou não: mostrando para os outros.
(“Mas Aline, como você pode querer feedback sobre seus textos se fechou os comentários do blog?” Acredite ou não, depois que eu fiz isso, os feedbacks mais construtivos e interessantes continuaram chegando até mim, e de uma forma muito mais proveitosa)
Talvez eu esteja equivocada sobre isso. Talvez eu não devesse ter a “pretensão” de colocar na rua um negócio que nem está tão bom quanto eu acho que deveria só porque quero que mais pessoas leiam – embora eu não veja algo mais despretensioso do que mostrar algo que não está perfeito justamente para colher as críticas e entender como melhorá-lo.
Mofo de gaveta não amadurece texto. Escutar críticas e trocar ideias, isso sim.
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Inspirar, ensinar, questionar. Acho que a relevância de um texto está aí. Não no tamanho da polêmica que ele levanta, não nas qualificações de quem o escreveu, não em sua qualidade de recente.
Porque a polêmica, a importância do autor, a novidade do texto: tudo isso passa. O que fica é o quanto eu me senti inspirada por algo que li, é eu ter aprendido algo com aquilo, é aquele texto ter me feito parar para pensar.
É essa linha que eu tento seguir, embora eu vá fracassar, e muito. Mas é o meu direcionamento, pelo menos para eu dizer que tenho um, já que meu blog não segue um tema específico – o que deve afastar muitos leitores, não acham?
Tudo isso só para dizer que, embora eu já tenha quase desistido deste blog várias vezes, pelos mais variados motivos, escrever na internet é algo que eu ainda irei fazer por um tempo. E que só faz sentido porque alguém – quero crer – continua me lendo.
Obrigada às leitoras e leitores que não me deixam falando sozinha, que me mandam e-mails, que interagem comigo, que me ensinam tanto. Vocês são firmeza.
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E, aproveitando a vibe “primeiro texto do ano” (a produção me informou que pode sim escrever listas e resoluções de ano novo até o Dia de Reis – ou seria aquele negócio de desmontar a árvore de Natal?), vai aí o que desejo para a internet em 2014:
Que os textos bons, inspiradores, positivos e construtivos sejam compartilhados e dominem a internet gerando mais Mão Na Consciência mundão afora, enquanto os textos ruins, agressivos, preconceituosos e fonte de chorume sejam abafados e morram agonizando aos gritos, sozinhos e desamparados.
Que os blogs legais não morram e que suas autoras e autores permaneçam firmes nessa jornada de fazer o Bom Conteúdo predominar na internet.
Que vejamos menos conteúdo replicado e mais conteúdo original.
Se não tiver jeito e for replicar, que pelo menos deem os créditos.
Que mais gifs do Tom Hiddlestone sejam feitos para nos aliviar nos momentos mais sombrios, porque está pouco de gifs do Tom Hiddlestone.
Que as caixas de comentários todas explodam. Só uma hecatombe pode nos salvar dos comentaristas de portal.
Que parem de bater palmas para maluco dançar.
Que eu não seja o maluco dançando pedindo por palmas. Nem você.
Que mais blogs inteligentes, com textos bem escritos e bem pensados surjam, porque é lindo ver mais pessoas se empolgando para escrever.
Que ninguém me meta em tretas. Que eu não me meta também, por vontade própria ou por acidente.
E que as pessoas levem as coisas boas dos textos que leem para além mais do que um like no Facebook.
(mas por todos os likes, eu agradeço)
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Fotografia da capa: Erin Murphy // Flickr Creative Commons.