Diferente de quando me perguntam sobre quando vou ter filhos ou quando vou me casar ~de verdade~ ou ainda sobre por que odeio homens, adoro responder as pessoas que me perguntam sobre o meu charmoso dispositivo de leitura digital: o Kobo.
É bom avisar que não estou sendo paga para escrever este texto (mas bem que poderia, hein). Resolvi escrever apenas para centralizar as informações que costumo dar para quem me pergunta sobre o Kobo e contar um pouco da minha experiência sincera com esse aparelhinho.
E não, não vou fazer comparações com o Kindle. Por um motivo simples: eu não tenho um Kindle. Então não me perguntem se o Kindle faz isso, se o Kindle tem aquilo; eu não sei, ok? Agora, se você quer saber sobre o Kobo e somente sobre ele, pode continuar a leitura e espero que eu consiga ajudar a tirar algumas dúvidas.
Ele é discreto, carrego na bolsa, posso usar em casa, para ir à praia ou ao parque – e não é um absorvente íntimo, embora tenha se tornado, pra mim, tão indispensável quanto. O Kobo é um e-reader, um leitor de livros digitais. Está para completar 1 ano que eu tenho o meu e já temos uma história cheia de altos e baixos.
Começamos bem: o primeiro livro que eu li pelo Kobo foi “O Festim dos Corvos”, da série “As Crônicas de Gelo e Fogo”. O volume anterior, “A Tormenta de Espadas”, um calhamaço de papel de uns dois quilos, deixava meus pulsos com cãibra ao passar horas segurando aquele bloco de concreto literário. Eu não soube segurar? Foi falta de alongamento antes da leitura? Talvez. Mas a experiência de ler George R.R. Martin segurando apenas algumas gramas foi como atravessar um portal para um outro mundo onde eu não me atrapalho toda para virar páginas em um livro pesado demais para sustentar com uma única mão.
O Kobo é leve e de um tamanho que dá para segurar com uma mão só (tem até uma texturinha atrás pra ajudar na pegada). Eu, que já lia quadrinhos no iPad, depois de um tempo lendo o Kobo me desacostumei: ele é menor e bem mais leve que o iPad. Aliás, o Kobo é mais leve até que meu celular.
Um comportamento interessante que notei quando mostrei o Kobo para algumas pessoas: elas tentavam, instintivamente, mexer nele como se fosse o iPad. Mas não, gente. É muito diferente. A começar pela tela.
O grande diferencial de e-readers como o Kobo é uma tela que não emite luz. Eu já passo o dia inteiro trabalhando de frente para o computador, olhando para a televisão ou para o celular. Essas telinhas luminosas que atraem nossa atenção, como bons bichos de luz não-voadores que somos, cansam a vista, por mais que estejamos acostumados a elas.
Passar horas lendo é uma atividade que fica mais confortável se o texto está no papel. A tela do Kobo (assim como a do Kindle, nesse quesito eu posso falar) imita o papel, pois usa uma tecnologia alienígena que a ciência ainda não conseguiu explicar, chamada e-ink. Tudo o que você precisa saber é que é uma tela que não emite luz, parecida com papel.
O modelo que tenho é o Kobo Touch, o que significa que eu posso passar páginas e selecionar opções apenas com um toque delicado na tela. É bom avisar que, em função da tecnologia e-ink ser diferente, a tela do Kobo não é tão responsiva. Comparado com o iPad, por exemplo, o touch do Kobo é bem lerdo, e isso pode aborrecer um pouco quem espera que uma maçã tenha gosto de chocolate belga.
O Kobo parece papel, mas tem uma vantagem sobre ele: o espaço físico. Esse aparelhinho é muito menor do que qualquer livro que costumo ler, além de abrigar dentro dele uma quantidade absurdante de livros (bem mais do que consigo ler em um ano ou dois, certamente). A capacidade de 1,5 GB de armazenamento pode não parecer muita coisa para os padrões de hoje, mas relaxa: os arquivos lidos pelo Kobo pesam poucos MB. Os maiores arquivos que estão agora no meu Kobo pesam entre 3 e 4,8 MB. Mas se 10.000 livros armazenados não é o suficiente para você, o Kobo tem entrada pra cartão de memória.
Quando me mudei de Brasília para São Paulo, o moço da transportadora ficou até desanimado ao ver a quantidade de livros que ele teria que encaixotar. Na hora, perguntou: “você é professora, né?”. Poucas vezes me senti tão lisonjeada (só espero que ele não tenha reparado a falta de títulos eruditos na minha estante). Uma das coisas que me motivou a ter um Kobo é que eu não tinha mais onde guardar tanto livro (inclusive, doei um monte na mudança). Desde então, parei de comprar livro impresso. Até agora, só abri exceção para alguns quadrinhos e para o livro “Máquina de Pinball”, porque Clara Averbuck super vale a exceção.
“Eu nunca substituiria livro impresso pelo livro digital, eu adoro o toque do papel, o cheiro, sabe?” Nossa, que bom pra você. Eu também adoro o toque e o cheiro do meu Kobo. De qualquer forma, eu gosto de comprar livros para ler, não para ficar cheirando. Mas cada um com suas loucuras, né?
Os arquivos compatíveis com o Kobo estão no formato epub. Explicando de uma forma bem superficial, os arquivos epubs são bem maleáveis, pois permitem que a pessoa molde o conteúdo para a melhor forma de visualização na sua tela. Isso significa que a diagramação do livro em epub não é fixa: você pode mexer na fonte, no tamanho da letra, no espaçamento das margens, de uma forma que a leitura fique mais confortável para você.
É por isso que eu não recomendo ler livros em pdf no Kobo, por mais que ele abra arquivos do tipo. Diferente do epub, o pdf tem uma diagramação fixa, então o Kobo vai interpretar cada página como uma imagem. Você não vai conseguir mexer em nada e é provável que a letra fique pequena demais para ser legível. Sério, é uma bosta.
Sei que é muito mais fácil encontrar livros em pdf, mas vale converter para epub. Tem um programinha grátis que faz isso, o Calibre. Você consegue converter arquivo de qualquer formato para qualquer formato (inclusive compatível com Kindle) e também é um bom programa para gerenciar sua biblioteca e os livros guardados no seu dispositivo. A conversão não fica perfeita: podem surgir quebras de páginas no meio de parágrafos e a contagem de páginas fica zoada (dependendo do tamanho da letra que você utilizar, é preciso passar 3 páginas no Kobo para passar 1 página no livro), mas dá pra ler numa boa. Li “O Romance d’A Pedra do Reino” nesse esquema.
Como funciona pra mim essa coisa louca de caçar livros digitais: primeiro eu busco na Kobo Store, pelo próprio aplicativo do Kobo que você instala no seu computador. Mas o acervo (da Livraria Cultura) não é tão bom. É realmente muito difícil achar alguns títulos – ou vai ver são justamente os livros que quero ler que eles não têm. Sem falar do sistema de busca: que tristeza, amigues. Você busca por “Eu, robô” e acha até “PS: eu te amo”, tudo menos Asimov.
Daí se não encontro o livro que quero, vou buscar no mercado negro. O bom do epub é que é um formato fácil de achar para download gratuito – encontrei a obra completa de Lovecraf em epub, por exemplo. Se não acho a obra que quero em epub, busco em pdf e faço a conversão. Não é o ideal, mas é melhor do que nada.
Vários dos livros que li, baixei de graça – na própria loja do Kobo tem alguns títulos grátis para você conhecer novos autores, olha que maravilha – e apesar de não serem “nossa, que pechincha de livro”, os livros digitais são razoavelmente mais baratos do que os impressos. Então, sim: o Kobo é super compatível com meu estilo pobre de vida.
Ah, um detalhe: a tela do Kobo é em preto e branco. Se você quer ler quadrinhos coloridos ou quer ver as figuras dos livros com cores, talvez o Kobo não seja para você. Quem sabe uma tablet? Quem sabe aquela tecnologia inovadora chamada livro impresso?
Quando o livro é de papel, antes mesmo de comprar você já consegue saber o tamanho dele só de olhar. Quando o livro é digital, você perde um pouco de noção de tamanho, o que me levou a ler livros bem grossos sem me sentir intimidada por eles. Você já viu a grossura de “O Romance d’A Pedra do Reino” numa livraria? Pois é.
Além da vantagem já dita acima sobre deixar o conteúdo da forma que você ache mais confortável, o Kobo permite que você faça anotações e destaque os trechos mais importantes do livro. Então, em vez de sair folheando o livro em desespero atrás daquele trecho precioso que você marcou, você consegue ver todas as suas marcações em formato de lista, e consegue acessá-las facilmente, indo até a página marcada. O chato é adicionar notas: como a tela do Kobo não é tão responsiva, usar o teclado dele é bem desagradável. Mas eu estou vivendo bem sem isso, obrigada.
Outra coisa legal é que basta um toque em uma palavra para ver a definição dela no dicionário. Como estou lendo alguns títulos em inglês, ver o significado da palavra no dicionário tem facilitado bastante a minha leitura, ainda que o dicionário seja em inglês. É, tem o dicionário em português e em inglês, mas não tem dicionário de tradução. Você também pode instalar dicionários de outros idiomas.
Com o Kobo eu me sinto muito mais encorajada a desistir de um livro. Como ele não é físico, não existe aquele sentimento de culpa de não ter lido um livro que ocupará indefinidamente um espaço na minha estante. Com isso, eu ganho tempo: deixo de ler um livro que não está me interessando e me dedico a ler as coisas que realmente gosto.
Por esse mesmo motivo, eu me sinto mais encorajada a conhecer coisas novas, arriscar-me por novos autores. Se não me agradar, não preciso terminar de ler, não vai ser um livro me encarando do alto da estante com um olhar repreendedor. E tem valido o risco.
Dizem que a bateria dele dura um mês. Sinceramente eu não sei, porque demora tanto para a próxima carga que eu esqueço. Só recomendo que você não deixe o aparelho em modo “desativado” muito tempo, porque isso consome bateria. Muito pouco, mas deixa a torneira pingando o mês inteiro pra ver a conta de água depois. Terminei de ler por hoje, desligo. Aparece uma faixa preta escrito “desligado” e uma indicação de quantos por cento eu li do livro atual.
Quando o Kobo está desligado, aparece a capa do livro que estou lendo, em preto, branco e tons de cinza – se você não configurar para aparecer a capa, a tela mostra a marca da Livraria Cultura. As pessoas para quem mostrei o meu Kobo estranharam, perguntaram como fazia para desligar, achando que ele estava ligado. Mas relaxa: a capa fica impressa na tela e isso não gasta energia. Como eu disse, tecnologia alienígena.
Ele vem com um cabo usb que você pluga no computador para fazer transferências de arquivos e para carregar a bateria. Já a capinha é um acessório que você tem que comprar separado. Recomendo usar capinha para ele não ficar empoeirado e para a tela ficar protegida. Encomendei uma linda de tecido, feita sob medida para o Kobo.
Outra coisa legal do Kobo é o capricho dos menus e a facilidade de usar. É tudo muito bonitinho.
E tem o Reading Life, que te dá as estatísticas de leitura, como quantas horas você já passou lendo, quantos livros você já leu e quanto tempo você está levando para ler o livro atual. Os prêmios são alguns incentivos para os leitores. São “badges” que você desbloqueia à medida que lê, como por exemplo o “Juggernaut”, que eu ganhei ao virar 10.000 páginas com o Kobo ou o “Hora das Bruxas”, por ter lido cinco vezes no horário de meia-noite a uma da manhã. Pode até ser bobo, mas adoro essa lógica de vídeo-game.
O que mais posso falar? O Kobo tem wi-fi, como qualquer saboneteira que é vendida hoje em dia e dá pra compartilhar trechos favoritos do seu livro no Facebook. Vacilo não ter integração com o Twitter, hein?
Fora essas coisinhas, não tem nada que te distraia do que realmente importa: a leitura. E é isso, mais do que a plataforma na qual está o livro, que realmente importa.
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Espero que eu tenha conseguido ajudar. Se tiver qualquer dúvida, fala comigo.
Essa capa bonitona que vocês viram nas fotos é do Universo Desconstruído, uma coletânea de ficção científica feminista que você pode baixar de graça aqui.
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Fotografia: Marcos Felipe.