300 palavras. O desafio é escrever 300 palavras por dia, mas já vejo as dificuldades antes mesmo de começar. É que tudo que tem números me dá preguiça. Tenho antipatia. Rejeito de antemão. Sou de Humanas, sabe como é.
Acho que é por isso que nunca gostei de academia e sempre negligenciei exercícios físicos. é 1, 2, pra lá, 3, 4, pra cá, e toma-lhe 5, 6, 7 e 8. Contar dá trabalho e em alguns casos até me faz suar. Não quero, não gosto, fujo.
Pagar penitência também vinha em forma de números. Você se confessava e logo o padre tascava, dependendo da gravidade dos seus pecados: 1 salve-rainha, 3 pai-nosso e 10 ave-maria. Uma espécie de puxação de ferro espiritual.
Então dá para entender porque tenho problema com essa disciplina numérica. Escreva 300 palavras. Trabalhe 8 horas por dia. Escreva durante 25 minutos. Caminhe 2 km. Pague as contas todo dia 15. Tire 10 na prova. Consiga 1.000 seguidores no twitter. Argh, cansa.
Os números sempre andam juntos com as coisas que eu TENHO que fazer, com restrições, com metas. Olho para números e me sinto oprimida. Alguns me dão vontade até de chorar. De verdade.
E agora me vieram com essa de escrever 300 palavras por dia. Já respondi na hora: “não dá, não consigo”. O número 300, por si só, já é ameaçador. Quanto eu teria que escrever pra alcançar essas 300 palavras? Na minha cabeça, 300 palavras dá quase um livro. É coisa pra chuchu.
Mas, pensando bem, devo escrever bem próximo disso (ou até mais) se for olhar os meus tuítes do dia. 300 palavras pulverizadas em momentos que uso para evitar as coisas que tenho que fazer, entre elas, as mesmas 300 palavras. Não é irônico? Mas melhor nem pensar nisso. Bem capaz de que todas as coisas que escrevi para evitar escrever já tenham dado um livro. Ou dois. Ou uma trilogia, dessas que daria para adaptar para o cinema e tudo o mais.
Agora, se eu tivesse que escolher entre as 300 palavras e 300 abdominais, eu ficaria com as palavras. Talvez, a forma mais eficaz de eu conseguir cumprir essa meta seja me impor essa escolha. Se eu não escrever as 300 palavras, vou ter que pagar a penitência em abdominais. E aí, Aline, o que vai ser?
Bem, se eu não conseguir produzir tanto texto por dia, pelo menos vou ficar gostosa.
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Agradecimentos ao Tarrasque, meu personal trainer da escrita.
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Ilustração via Wikimedia Commons