Quando a ficção não funciona

Quantos livros já fizeram você chorar? Eu mesma não saberia responder a essa pergunta. Mas vamos lá, pense. Quantas vezes você já se envolveu tanto com um personagem a ponto de chorar por sua morte ou por um momento de superação?

Bem, você sabe que, pelo menos na maioria das vezes, aquele personagem não existe e as coisas pelas quais ele passou na história não são reais. Ainda assim, você sente aquele aperto no peito quando ele passa por situações difíceis, ou sorri quando o personagem se dá bem, ou é tomado por ansiedade quando ele passa por um momento de tensão, ou ainda derrama algumas lágrimas quando ele morre.

A leitura é uma incrível tecnologia de simulação de realidade. Você incorpora os personagens. Você vive o que ele vive, vê o que ele vê, sente o que ele sente.

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Talvez nada nessa vida consiga nos apresentar tão bem a essa experiência quanto a ficção. Ler ficção é, acima de tudo, desenvolver a habilidade criativa de ser outra pessoa. De viver o mundo dessa pessoa. De estar na história dessa pessoa.

Mas tem algo errado aí. A ficção está fazendo seu trabalho, e muito bem, como sempre fez, mas muita gente é incapaz de viver essa experiência. Ou de passar essa experiência dos livros para a vida real.

São pessoas que não percebem que cada pessoa ao seu redor é um ser humano tão único e complexo quanto elas próprias. E que cada um desses seres humanos é protagonista de sua própria história.

São pessoas que não veem problema em determinado tipo de piada, porque se elas não se ofenderam, então não deve ofender mais ninguém. São pessoas que, se conseguiram alguma coisa na vida, acham que todo mundo que se esforçar como elas também vai conseguir. São pessoas umbiguistas. Para elas, pessoas diferentes do seu padrão ou são inconcebíveis ou são inaceitáveis. Ou não existem, ou não deveriam existir.

São pessoas que não se incomodam em serem estúpidas e babacas com os outros em comentários na internet, já que não imaginam que há uma pessoa do outro lado, muito menos tentam se colocar no lugar dela.

E o papel da ficção é justamente esse. A ficção permite que a gente se coloque no lugar do outro. “A literatura nos ensina que existe um Outro e que ele é diferente de nós”. Mas não está funcionando. O que está faltando? Se nem a ficção é capaz de ensinar a essas pessoas o que é empatia, então o que será?

Talvez você concorde comigo: ler é bem mais que juntar letrinhas. E a melhor leitura é aquela que não só ofereceu boas horas de entretenimento, mas aquela que fez de você mais humano.

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Todas as imagens desse post foram tiradas do site Underground New York Public Library. Esse projeto é um bom exemplo do que é uma pessoa exercitando a empatia. Vale a visita.


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