Gatos, ao contrário do que muitas pessoas pensam, não dormem cerca de 16 horas por dia. Gatos tendem a ser mal compreendidos e seu estilo de vida é geralmente confundido com preguiça. O que não é verdade. Gatos são, na verdade, adeptos de uma prática muito antiga conhecida como Zen Gatismo.
O Zen Gatismo não é uma religião, porque gatos são ateus, naturalmente. Também não é uma filosofia, nem um movimento de vanguarda, nem uma terapia para acalmar os nervos e ser mais bem-sucedido na carreira. O Zen Gatismo é um estilo de vida. O Zen Gatismo é a própria essência da gatice do ser, pouco compreendida ou solenemente ignorada pelos humanos em sua infinita ignorância e em sua completa imersão em uma rotina estafante de trabalho.
Quando os gatos parecem dormir, estão na verdade meditando. São capazes de ficar horas parados na mesma posição embolada ou contorcida, esbanjando um contorcionismo que apenas praticantes do Zen Gatismo são capazes de reproduzir – e com a mente absolutamente esvaziada de preocupações sem sentido, como a fatura do cartão de crédito, o trânsito, a declaração do imposto de renda, as pilhas de trabalho acumuladas no escritório, as tretas nas redes sociais ou o que preparar para o almoço amanhã.
Libertos de todas essas inquietações inúteis e passageiras, os gatos conseguem se conectar com a realidade em estado puro: ontem não éramos, hoje somos, amanhã não seremos mais. A vida é curta, e para os gatos isso significa menos de 20 anos. Sim, a vida é curta demais para se ocupar com o que não é importante. Então eles se acocoram em outra posição e continuam a meditar.
No Zen Gatismo, não existe a separação entre o corpo e a mente. Tão importante quanto manter a mente em forma, é trabalhar o corpo com o mesmo afinco. Por isso, ao terminar a sessão de meditação, os gatos lentamente se espreguiçam, alongando o corpo inteiro. Da ponta da cauda à ponta da língua, que se estica para fora da boca ao mesmo tempo em que o gato forma um arco perfeito com seu tronco.
Afiar as garras faz parte do ritual. E os gatos se entregam com total dedicação a cada ritual envolvendo o corpo. A limpeza, uma tarefa muito importante no Zen Gatismo, é um bom exemplo: um gato pode levar 5 horas por dia lambendo os próprios pelos.
Fotografia: Heather via Flickr Creative Commons
O prazer, para os gatos, não é apenas carnal; chega a ser uma experiência espiritual. Um carinho na barriguinha ou uma coçadinha atrás da orelha são capazes de deixá-los em transe. Essa relação tão forte e sensorial com o corpo faz com que os praticantes do Zen Gatismo sejam experts em massagem. Eles sabem exatamente em qual ponto tocar e quanta pressão colocar em suas patas macias para proporcionar extremo relaxamento.
Gatos têm um controle e um conhecimento do próprio corpo que os humanos não teriam nem em seis ou sete vidas. É por isso que humanos não conseguem pular tão alto, escalar com tanta facilidade, enxergar tão bem no escuro, ouvir até uma agulha caindo do outro lado da sala, ser tão flexíveis ou ainda se mover com tanta leveza.Todas essas habilidades felinas foram conseguidas com muito treino, seguindo rigorosamente as práticas do Zen Gatismo.
Certamente, os humanos têm muito a aprender com eles. O Zen Gatismo contém uma lição inspiradora para uma vida mais simples, prazerosa e desapegada de bens materiais. Mas, ainda assim, vai ser difícil alcançar o nirvana experimentado pelos felinos. Os gatos são muito superiores: eles não têm internet.
Monaustê.
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Fotografia da capa: Clarissa Rossarola // Flickr Creative Commons