A Marcha das Vadias de 2012 foi uma delícia. Não só pelas pessoas (homens, mulheres e crianças) que ocuparam as ruas para lutar por um mundo sem violência contra a mulher, mas, principalmente, pelas reações rancorosas e machistas que surgiram por aí.
Essas reações só confirmam a necessidade da Marcha das Vadias.
Parece que as pessoas se incomodam mais com o nome do movimento do que com o fato de mais de 15 mil mulheres serem estupradas por ano no país ou com o fato de o Brasil ocupar o 7º lugar no ranking mundial em homicídio de mulheres. A Marcha das Vadias é indecente? Indecente é o machismo, que mata.
As pessoas já têm uma má vontade enorme para entender o que é o feminismo, por mais que a informação correta seja tão fácil de encontrar quanto vídeos de gatinhos. Não ia ser diferente com a causa da Marcha das Vadias. O tempo que as pessoas gastam comentando bobagens é o mesmo que ela levaria para se informar um pouquinho.
Então vamos juntar o Tico e o Teco: somos chamadas de vadias por termos uma vida sexual. Por expressarmos nossa sexualidade. Por nos vestir como queremos e por nos comportar como bem entendemos. Somos chamadas de vadias por não aceitarem que o corpo é nosso, e não deles – muito menos do Estado ou da igreja. Somos chamadas de vadias porque queremos ser livres. Existe um infindável leque de coisas pelas quais somos taxadas de vadias. Em resumo, somos chamadas de vadias pelo simples fato de sermos mulheres. Dizem que somos vadias? Então vamos assumir que sim, somos vadias. Só para dizer de volta que isso não é justificativa para nos agredirem, nos violentarem, nos desrespeitarem.
“Mas eu respeito… quem se dá ao respeito”.
A pessoa posa de respeitadora das mulheres, quando, na verdade, o que ela quer dizer com isso está tão impregnado de machismo que até escorre. E o que ela quer dizer, afinal? Que precisamos ser o que (e como) eles querem para ver se somos dignas de algum respeito.
Quando alguém diz isso, está querendo dizer que existe só um tipo de mulher que merece respeito, e que para isso — vejam só — ela ainda depende de seu magnânimo julgamento! Pensa bem: é o mesmo raciocínio de quem diz que se uma mulher foi estuprada, foi porque provocou; que se uma mulher apanhou do marido foi porque mereceu. Que a culpa é da mulher, que “não se deu ao respeito”.
Se alguém emite um juízo de valor sobre determinada pessoa que a exclua do grupo considerado “aceitável”, está despojando ela de sua humanidade. E desumanizando-a, pode então justificar sua violência contra ela. Precisa desenhar para ficar ainda mais claro?
É por isso que nós vadias marchamos. Para pisotear as ideias erradas de toda essa gente equivocada. Para mostrar que somos negras, somos gays, somos mães, somos putas, somos trabalhadoras, somos livres — e todas nós merecemos respeito.
A Marcha das Vadias foi linda. Mulheres e homens de todas as cores, tamanhos, idades e orientações sexuais se uniram para dizer que querem viver em um mundo sem violência contra a mulher, sexismo, racismo e homofobia. Nossa voz despertou o desespero de quem não aceita um mundo de igualdade (e não duvido que muitos haters vão aparecer por aqui também). Gente que vai fazer de tudo para tirar a legitimidade do nosso discurso, mas não vão nos abalar. Perto do pensamento pequeno de quem critica, a nossa luta fica ainda maior.
Serviço de utilidade pública
Vamos combinar o seguinte: só vale criticar algo que você conhece minimamente bem. Então, para ajudar quem não entende o que é feminismo e o que a Marcha das Vadias tem a ver com isso (ou para quem gosta de ler sobre o assunto), vou indicar ótimos textos. Leitura obrigatória.
Manifesto: por que marchamos? – Marcha das Vadias DF
Marcha das Vadias for dummies – Letícia F., do Cem + 1.
Marcha das Vadias: coletividade e mobilização – Srta. Bia, em Blogueiras Feministas
As vadias e as feministas: uma discussão datada – Glaucia Fracarro, em Blogueiras Feministas
O que é feminismo? – Bidê Brasil
Porque sou um homem feminista – relato de Byron Hurt, em Escreva Lola Escreva
Who needs feminism? – pôsters legais no Facebook para você compartilhar (em inglês)
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Fotografia da capa: Marcos Felipe