Seja lá de onde surgem as ideias, elas parecem cair em várias cabeças ao mesmo tempo. E é claro que se a ideia é boa, não gostamos de desperdiçá-la. Vamos carregando ela no colo, como se fosse um tesouro, esperando o momento certo e as condições ideais de colocá-la em prática. Precisamos trabalhar nela indefinidamente até que ela fique perfeita, até que nós mesmos estejamos perfeitos para poder executar essa preciosidade. Temos todo o tempo do mundo. Afinal, a ideia é boa demais para ser feita logo, certo?
Lembre-se do início do texto: a ideia pode ser boa, mas, com certeza, outra pessoa também já pensou na mesma coisa. Pode ser que essa outra pessoa seja mais prática que você e pule essa etapa de punheta eterna que é lapidar uma ideia. Imagine que ela faça primeiro o que você acreditava que precisava de tempo e cuidado para começar a ser feito. E aí? Vai reclamar para o papa?
Isso acontece sempre. E o perfeccionista sempre fica chupando dedo.
Conversando com um amigo publicitário, ele me contou que tinha tido uma ideia genial para um de seus jobs. A ideia era simples, mas era realmente boa. O problema é que não foi aprovada, disseram que precisava ser melhor trabalhada. Ainda não era “do caralho”. Daí que, semanas depois, o cliente concorrente foi lá e fez a mesma ideia. Ganhou prêmio e tudo.
Ontem mesmo conversei com um amigo que está sempre cheio de ideias para escrever, mas ele nunca acha que as ideias estão boas o suficiente. Ou ele pensa em como aquilo pode ser escrito de forma genial, ou desiste, achando que é besteira escrever aquilo. Resultado: não coloca as ideias no papel. Se colocasse, já tinha dado um livro.
O que fez primeiro, fez mal feito. Mas e agora? Está feito do mesmo jeito.
Outro amigo teve uma ideia para um livro de fantasia, mas descobriu que fizeram um filme com a mesma história. E o pior: o filme era horrível. Não duvido que ele ainda possa escrever algo genial, mas já pensou? Criar uma história brilhante e no fim alguém dizer “nossa, não é que parece aquele filme que eu vi na Sessão da Tarde dia desses?”
A nossa capacidade para achar que uma ideia não é boa o suficiente é praticamente infinita. Alguns acham bonito esse processo eterno de lapidar uma ideia, de preferência protegendo-a a sete chaves, como se aquela pessoa que teve a ideia fosse a primeira e única no mundo a ter pensado naquilo.
Bonito mesmo é quem encara o desafio de fazer. Vai dar certo? Só fazendo pra saber. Se der errado, deu. A vida continua, você supera, aposto que consegue ter ideias tão boas ou ainda melhores. Mas pelo menos foi feito – e existe um mérito enorme em fazer algo virar realidade.
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Imagem: Death to Stock Photos