“Sobre o que você escreve?”
Pergunta sacana que sempre aparece quando alguém quer saber com o que trabalho. “Sou escritora”. Mal digo essas palavras, sei o que virá a seguir da cara de espanto. A tal pergunta. Que me deixa na dúvida sobre o que, afinal, a pessoa quer saber. Em qual gênero me encaixo? Se escrevo romances policiais ou histórias de amor ou poesias ou autoajuda? Se escrevo algo que é do interesse dela?
Às vezes, pego o caminho curto e respondo que escrevo literatura fantástica. Ficção científica. Romances, contos. A resposta é pobre, limitada. Pouco verdadeira. Embora, de alguma forma, sacie o entendimento de quem pergunta.
Sobre o que são meus livros?
Essa pergunta sempre me quebra as pernas.
Complicado definir esses bichos híbridos que crio. Um dos meus romances é sobre uma expedição científica, mas o foco são as pessoas. Outro é uma exposição fotográfica, mas com imagens todas feitas de palavras. Escrevo sobre coisas que dão errado. Escrevo sobre saltos para o passado, sobre coisas que aconteceram há muito tempo — a décadas ou milhões de anos de distância.
Um é sobre água, outro sobre terra, como muito bem observado por um leitor. Um é sobre som, o outro sobre luz.
São livros cheios de bichos — de vira-latas caramelo a polvos, de cachalotes a lobos-guará. São livros sobre sereias. Sobre gente tentando saber sobre si — e falhando no caminho.
São livros cheios de gatilhos. Com histórias feitas de solidão e abandono, de coisas não-ditas ou mal-entendidas. E também sobre gringos trabalhando com brasileiros e passando diversas raivas.
Não sou tão boa explicando a história. Os leitores têm feito isso muito melhor, grazadeus. Porque o melhor que eu poderia dizer sobre esses livros já deixei escrito neles. Não consigo dizer com poucas palavras. Pelos títulos, já dá para ter uma ideia que concisão não é o meu forte.