“Enquanto escrevo vou pensando que resido num castelo cor de ouro que reluz na luz do sol. Que as janelas são de prata e as luzes brilhantes. Que a minha vista circula no jardim e eu contemplo as flores de todas as qualidades. É preciso criar este ambiente de fantasia, para esquecer que estou na favela. As horas que sou feliz é quando estou residindo nos castelos imaginários”.
Carolina de Jesus, Quarto de Despejo, 1960
Na foto, a autora dessas palavras, Carolina Maria de Jesus, indo pegar um avião para lançar seu livro, Quarto de Despejo, fora do Brasil. Hoje li um texto da Fabiana Moraes que diz: “a periferia deseja brilhar, como a maioria dos seres humanos nascidos sobre a terra”. Penso nas mulheres com as mentes cheias de castelos imaginários, capazes de criar riqueza com as mãos. Penso em como a arte pode ensinar nosso olhar a ver beleza no mundo, a se acostumar com o brilho escondido nas nossas cavernas mentais. Penso em Carolina e em como eram brilhantes suas palavras. Que bom ela fez morada na literatura.